domingo, 17 de outubro de 2010

Únicas e Tantas

Já amei mulheres tão únicas e de maneiras tão diferentes
Que não sei se elas mudaram tanto ou se eu tanto mudei o que se sente.

Houve uma época em que amar era fulminante
Olhar que se perde num olhar infinito
Onde o tempo de fora parava e o de dentro era sentido
Tinha que ser muito, tinha que ser sofrido
Tinha que ter o medo, emoção, taquicardia
Mão suada, expectativa. Flores roubadas, verso e melodia.

Amei muitas assim. Tantas que nem mesmo elas o sabiam.
Em silêncio, às vezes, em desespero
Até que um dia nada mais existia.
Aquela poesia se ia como chegara
Tão repente quanto o nada ficava
Como se o fim não fosse apenas agonia.

Já amei tantas mulheres diferentes e de tão únicas maneiras
Que não sei se me amaram tanto ou se tantas vezes amei a mesma.

Amei de forma racional e responsável.
Atendendo à tudo aquilo que de mim esperavam.
De mãos dadas, sem arroubos, equilibrado.
Compromissos de vidas eternamente unidas
Pela união das vidas mais socialmente ensimesmadas.

Reuniões de família, aniversário da tia e enxoval,
Casamentos e fotos, vestidos. Onde passaremos o Natal?
Sobrenomes e sobremesas tradicionais no almoço dominical
Anéis, compromissos, sorrisos, tal e coisa, coisa e tal...

Enfim, amei tanto uma única mulher que de tão diferente sozinha ela era todas
Que não sei porque tão loucamente amava ou se a amava simplesmente de tão louca.

Ela me jogou silenciosamente numa rotina
De amar tacitamente seu amor todos os dias
De tantas maneiras que a única coisa que se repetia
Era a necessidade incontida de sempre amar.

Ela me fez me acostumar com a sua presença
Que mesmo um encontro inesperado era a imensa
Alegria incontida dispersada na descrença
Da sensação de estar junto mesmo antes de encontrar.

Um dia simplesmente imaginei viver sem ela
Fui revisando hipoteticamente os momentos não vividos
Senti uma angústia de morte, frio, medo e vazio,
Até que tudo o que se sentia não fazia mais sentido.

Naquela hora voltei chorando para casa
Lacrimejando os medos que em mim se escondiam
Velei seu sono durante a longa madrugada
Dormi seguro quando seus olhos se abriram.